quinta-feira, 30 de março de 2017


Foto: João Ballas

Qual o enredo, Picôco?


(Texto que publiquei em março de 2016 onde citava o amigo, hábito de gentileza comum em nossas escritas. A intuição matreira, inconscientemente, já se manifestava nos encontros com o Picôco. Uma de muitas lembranças de pessoa tão querida)

# Qual o enredo?
Não existe coisa pior do que quando nossas vidas se expõem em aflição. A doença é a pior delas. Agora a pior aflição é sofrer junto. É difícil conviver com a angústia estampada nos olhos de quem sofre. Causa-nos certo imobilismo difícil de descrever.

São peças de última hora, onde não se é ator do elenco, mas por necessidade da trama envolver gente querida, você pula de cabeça no roteiro com a finalidade de auxiliar para que ele transcorra da melhor forma, sem incidentes e aplausos no final.

Você, coadjuvante de última hora, se solidariza às últimas conseqüências vivendo o enredo como se autor, roteirista e diretor fosse deste drama pontilhado de realidade perversa. Seu bom astral tem que elevar o espírito da tropa mesmo sofrendo calado, torcendo para que tudo termine bem e logo. A vida tem que ser comédia senão perde a graça.

Antes tudo em nossas vidas fosse só mais uma peça de teatro com o impacto da emoção cronometrado com começo, meio e fim, onde você pode opinar se gostou ou não, ou mesmo levantar e ir embora se o espetáculo não te agrada. Já com a vida não é assim: é marota, leve, mas traiçoeira. O enredo de todos os enredos.

Ando apreensivo, em especial quando envolve amigos adoentados onde atuamos muito mais como amigos de fé do que como profissional. As palavras cismam em fugir da lógica. Pensamentos que gostaria de passar para o papel, meus dedos não obedecem. Em momentos assim desisto de mim. Busco lenitivo apaziguador, conforto à alma, breve trégua, relembrando o sincero “Vida” (A.Henfil) que o amigo Picôco tanto exalta:

"Por muito tempo pensei que a minha vida fosse se tornar uma vida de verdade. Mas sempre havia um obstáculo no caminho, algo a ser ultrapassado antes de começar a viver. Um trabalho não terminado, uma conta a ser paga. Aí sim, a vida de verdade começaria. Por fim, cheguei a conclusão de que esses obstáculos eram a minha vida de verdade.

Essa perspectiva tem me ajudado a ver que não existe um caminho para a felicidade.

A felicidade é o caminho. Assim, aproveite todos os momentos que você tem. E aproveite-os mais se você tem alguém especial para compartilhar, especial o suficiente para passar seu
tempo, e lembre-se que o tempo não espera ninguém.

Portanto, pare de esperar até que você termine a faculdade; até que você volte para a faculdade; até que você perca 5 quilos; até que você ganhe 5 quilos; até que você tenha tido filhos; até que seus filhos tenham saído de casa; até que você se case; até que você se divorcie; até sexta à noite; até segunda de manhã; até que você tenha comprado um carro ou uma casa nova; até que seu carro ou sua casa tenham sido pagos; até o próximo verão, outono, inverno; até que você esteja aposentado; até que a sua música toque; até que você tenha terminado seu drink; até que você esteja sóbrio de novo; até que você morra...

E decida que não há hora melhor para ser feliz do que agora mesmo.

Lembre-se: felicidade é uma viagem, não um destino. Viva a vida!“

Que a viagem honre seu traçado aos que tanto merecem viver e a fé em acreditar.

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