terça-feira, 7 de março de 2017




O resto é resto

Sou médico e agora estou vereador. Sem dúvida minha vida mudou e está difícil se adaptar a esta nova fase. O envelhecer, ao mesmo tempo em que te priva de inúmeros movimentos que as juntas faziam e hoje tanto doem, na mesma medida, nos privilegia a mente, nosso raciocínio, depura nossas ideias, isto se o alemão não incomodar. Entretanto, antes disso, muito podemos fazer. O benefício do passar dos anos. Digo-lhes que a experiência de ser avô é a diplomação de nossa maturidade enquanto vida.

Nossos filhos são criados com amor e carinho, porém, é na figura de nossos netos é que vemos a purificação do bem querer. Oferecemos a eles a experiência e a compreensão que a vida nos proporcionou de maneira cálida e pacienciosa. Com todo o cuidado.


O idoso é realista, imediatista e idealista. Eu sou assim e é assim que quero minha cidade: exemplar. Pelo tempo curto que me resta quero decisões para ontem e é por isso que, por vezes, me vejo angustiado. Minha vida já era atribulada o suficiente e fui arranjar mais essa. Tenho tido alergia nervosa, insônia, arritmia devido ao estresse político. Mas quem inventou? "Você, é claro", dá a sentença minha mulher.


Dúvidas, incertezas, vaidades, tudo isso também tem colaborado com a atual situação, mas tranquilizo a todos: sou contra reeleição para um mesmo cargo político. É foro particular e não tenho absolutamente nada com quem pense o contrário. Portanto quero ser vereador uma única vez, exemplar na medida em que me cabe. Por isso peço para que vejam minhas atitudes, de louvor sincero ou crítica áspera, visando somente o bem comum para a cidade. Só isso. 


 Perguntam-me: como é ser vereador? Confesso ser uma missão difícil na medida em que você se conscientiza da real importância junto àqueles a quem você representa. Já expus inúmeras vezes que sou um municipalista de carteirinha. Quero minha cidade em ordem para que ela sirva de exemplo às outras e que esta onda centrípeta do bem se propague a todo Brasil. Aí sim teríamos um país melhor.


Jundiaí tem que ser exemplo. E como se consegue isso? Com boa política. Com política séria e honesta, enfim, política de compromisso efetivo. Algo real e não de retórica apenas. De discursos bonitos a grande maioria dos brasileiros nos dias de hoje já está cheio. O descrédito político atualmente é conversa de qualquer ambiente. Na rua, na fila de ônibus, no bar, no barbeiro, enfim, em qualquer lugar. Como disse o imexível senador Romero Jucá, um safardana de quinta categoria: “a suruba tem que ser pra todos!”. O brasileiro acordou de um sono profundo de inércia e apatia e é por isso que nós, os compromissados com a cidadania e com a outorga de vereador ou qualquer cargo eletivo, temos a obrigação de honrarmos as calças que vestimos e por pra correr meliantes como o tal senador Jucá e tantos outros de sua laia.


Nas câmaras municipais - e aqui não é diferente - existem inúmeras opiniões e posições diferentes. Todos são eleitos da mesma forma e isso significa independência de atitude e ideologia. Chancela a individualidade democrática, mas na nossa democracia as coisas são um pouco diferentes.
 


Um exemplo é a base parlamentar de apoio ao Executivo que, com sua ampla maioria, sempre decidirá a favor do que por bem entender a parceria. Confio que estas atitudes sempre serão pautadas pela correção, bom senso e ética, entretanto, reservo-me o direito de discordar do que não julgar correto. Que tal atitude sempre seja compreendida e respeitada e não julgada de outra forma. Caça as bruxas já foi seu tempo. O primeiro teste que vivi foi traumático. Agora observo quieto para dar o bote certeiro, já vacinado.
A minha individualidade termina onde inicia a de outrem. A democracia entre todas as formas de governo ainda é o regime menos ruim. Considero-me um social democrata, isto para desagrado do Trump. E se preciso for vou lá falar com ele também, como fiz com o Ministro da Saúde. Pagando minhas despesas, é claro!


Perguntam-me com relativa freqüência: você é oposição ou situação. Respondo de forma simples: sou Jundiaí. Qualquer projeto que venha para avaliação, tanto do legislativo como do executivo, se entender que é bom para nossa cidade terá o meu sim. Caso contrário o meu não. Simples assim.


Tenho 64 anos. Nesta altura da vida lhes digo que as decisões que tomo são baseadas em prioridades que o bom senso determina. Aqui cabe o exemplo de ter ido a Brasília na terça feira, dia 7 de fevereiro, primeira sessão da casa. Quem não aprovou paciência.


Perguntei à deputada Pollyana Gama (do meu partido, o PPS), que me inclui na audiência, se daria para ir em outra oportunidade, ao que ela disse: tem mais de 5.000 cidades querendo falar com o ministro e nós já estamos lá. Você decide! Não hesitei em aceitar. Era necessário. Fui com o aval do prefeito Luiz Fernando e a presidência da Casa, Gustavo Martinelli. Uma missão importante por nossa cidade conhecendo as agruras atuais que a afeta. Viajei com recursos próprios, exceto ir para aeroporto.


Nossa cidade tem direito a três verbas federais já aprovadas. Só falta assinar e publicar no Diário Oficial da União e as três têm direito a quase 38 milhões de reais/ano de repasse. Adequar custos do município à gestão da saúde é necessário é verdade, mas a esperança em buscar recursos no estado com o governador e em Brasília com o ministério tem que ser tentado todos os dias. Sem cessar. É direito da cidade e é o que estamos fazendo. A atenção à saúde em cidade do porte de Jundiaí tem que ser otimizada a toque de caixa.
Que fique bem claro: ter ido lá não significa que voltei com o dinheiro no bolso, mas sim que eles estão nos devendo e fui lá cobrar e vou continuar cobrando. Que fique bem claro que não costumo perder dia de trabalho à toa, mas por Jundiaí valeu o esforço.


O nosso São Vicente é um velhinho doente, porém, vigoroso e é quem sempre a tudo resolve. Tem que ser olhado e tratado com carinho. É o mínimo. Seu desempenho, indicadores e qualificação são exemplares. Temos deficiências? Claro que sim. Um sem número delas, mas ao final o saldo é sempre positivo. Somos um resolutivo hospital-escola e nossos alunos e residentes atestam isso com seu treinamento. Meu grupo de cirurgia cardíaca e hemodinâmica, por exemplo, é referendado pelo DATASUS do Ministério da Saúde como o segundo melhor serviço do interior do estado de São Paulo em resultado e satisfação. E isto muito me orgulha ao ter completado em 2016 quarenta anos de formatura como profissional da área médica. E orgulho maior foi ter estudado na Faculdade de Medicina de Jundiaí, trazido pelas mãos do ilustre jundiaiense Dr. Jayme Rodrigues.


Convivemos com o pessimismo diário que a Prefeitura foi encontrada com um déficit financeiro enorme. Ok. Mas que fique claro: se estiver faltando dinheiro no caixa, nós, o povo que trabalha e paga impostos, não temos culpa pelo que aconteceu. Vamos, então, apoiar atitudes que ajudem a reparar o ocorrido. Que se denuncie no Ministério Público e onde mais for necessário. É obrigação de quem está no comando. Se houve farra com nosso dinheiro, se houve benefício particular, se houve favorecimentos, se desviaram ou se gastaram mal o que tinha no cofre, que se vá atrás, que se investigue a fundo os envolvidos, e, se culpados forem, que se tente repatriar o dinheiro desviado. Todos agradecerão. Quando se quer consegue, esta aí a Lava Jato pra provar.


Que o Brasil está carunchado desde quando Cabral chegou todos sabemos. Que o poder fascina e é o "sexo dos velhos" que se embrenham e se acomodam na política por toda avida, geração pós geração, também sabemos. Por isso chegou a hora da “fratura exposta”, como bem diz o músico Lenine. Chega de palhaçada conosco. Confio em minha família, nosso núcleo maior. Confio em mim. Confio nas pessoas de bem.
Que sejamos todos por uma Jundiaí melhor. Por um país maior.
Coragem, consciência, determinação e honestidade são os caminhos a seguir. O resto é resto.


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