quinta-feira, 20 de abril de 2017






A dor da perda

Ontem, cansado e indisposto pela lida diária e seus problemas, sentia-me abstraído do mundo ao meu redor. Uma sensação de isolamento, onde nada importava. Foi quando, no andar da tarde, ao ir embora do Hospital São Vicente, ouço cortando o ar, como há muito não ouvia,  um choro alto, doído, um lamento repleto de tristeza sem fim. Em sobressalto saio da abstração que me consumia e localizo a figura de uma jovem mulata de corpo franzino, encostada na parede de um dos corredores do hospital, abraçada a alguém que lhe consolava em vão. Um pranto inconsolável. Era muita dor. Paro por alguns segundos e olho emudecido aquele lamento. Faço uma rápida leitura de minha vida. Como médico e como pessoa comum. A memória embaralha. Tento relembrar quantas vezes presenciei cenas assim e a conclusão que me vem é uma só: a dor da perda de alguém é a pior dor. Nada se compara. Em pensar que não se verá mais um sorriso daquele rosto, não se ouvirá mais uma frase solta no ar, não se sentirá mais o calor de um afago, não se terá mais a felicidade de um abraço, tudo isso destroça a alma. Ao sair pela Rua Anchieta vejo mais pessoas desta família chorando na mesma intensidade. Todos em desespero igual. Cena triste. Que alento clamar nessas horas? Parece que Deus se esqueceu de você. É o que todos nós dizemos. Olho mais uma vez para trás, vontade de abraçá-los também, mas tomo meu rumo. A tarde acabou para mim.

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